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FERNANDO DEZENA
( BRASIL - MINAS GERAIS )
Fernando Dezena (Águas de Prata, 1960)
é poeta, contista e cronista.
Diretor da União Brasileira de Escritores (UBE), membro da
Academia de Letras de São João da Boa Vista e curador
literário do Espaço Cultural Boca do Leão, atualmente reside em São Paulo.
Gerente regional na Sicoob Arenito - São Paulo, São Paulo, Brasil.
DEZENA, Fernando. Difuso. Prefácio Ricardo Viveiros.
São Paulo: Editora Laranja Original, 2022. 106 p.
Exemplar da biblioteca de Salomão Sousa.
soneto da confissão
ah esse rosto emoldurado
no espelho de todas as manhãs
o relógio ritmado no alerta
esse cheiro de café perpetuado
ah esse olhar exangue do que fui
essa pressa constante pelas ruas
o desespero da prece ante o inaudito
e o soluço recluso em silêncio
ah esse medo de amor, esse recato
esse reencontrar no próprio mundo
essas fugidias mãos que carregam o pecado
e deixam na pele o último carinho
e cavam a terra fria como um berço
a morte do alcoólatra
morreu bêbado
a morte da advogada
morreu tentando
a morte do cirurgião
passe-me a faca
a morte do psicanalista
morreu sem entender
a morte do jornalista
morreu calado
a morte do poeta
morreu na letra
a morte do coveiro
nasceu uma flor
a morte do cozinheiro
no trigésimo dia do regime
a morte do juiz
o que é que fiz?
a morte do político
sifilítico
a morte do padre
era meu compadre
a morte de um irmão
irmãos não morrem
a morte da galinha
canja na vizinha
a morte do amor
gosto de isopor
a morte da aurora
antes que o dia nasça
meu último pensamento
quero suave
como a bruma
que se dispersa
ao incorporar o dia
poema jamais urdido
sem palavras
sem riscos
nem construções
último pensamento vazio
sem ar
oco
como o espaço sideral
*
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Página publicada em agosto de 2025.
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